TERRENCE MALICK: NO CAMINHO DA MISTIFICAÇÃO DESDE “TERRA DE NINGUÉM” ATÉ “A ARVORE DA VIDA” – PEÇA EM CINCO ATOS – V – JULIO CABRERA

ATO V. Epílogo: a metafísica do fogo. A metafísica do mal de Malick poderia entender-se visualmente em termos de fogo, presente em todos os filmes analisados: em Badlands, na queima da casa de Holly com o cadáver do pai dentro; em Days of Heaven, na queima dos gafanhotos com a luta dos dois homens pela mesma mulher. Não se trata aqui do fogo do inferno, mas do próprio fogo das paixões humanas, como se as ações de Kit, Bill e Abby tocassem fogo nas coisas, um fogo decorrente dos excessos existenciais humanos. Este fogo vai ficando fraco em Além da Linha vermelha; curiosamente, num filme de guerra cheio de material combustível, há fogo apenas numa cena, e muito mais fumaça do que fogo.  Finalmente, na Arvore da vida, o fogo aparece apenas como faísca primordial (um Bing-Bang com música sacra, sugerindo criacionismo); o fogo acaba por aqui, mas, em compensação, tem água, muita água. Tales alagou Heráclito. Ao longo da sua obra, Terrence Malick extinguiu o fogo da vida nas águas demasiado claras da moralidade.