ATO II. Days of heaven (Dias de paraíso, 1978). Entrando numa amoralidade cínica. Days of Heaven (Dias de paraíso) continua com a mesma temática – o mal e a inocência – mas agora de maneira mais atenuada, como se a destruição do outro demandasse uma explicação mais cuidadosa, menos animal; aqui o “mal” se torna, digamos, compreensível. Bill (Richard Gere) e Abby (Brooke Adams), os dois amantes pobres que viajam pelos campos buscando trabalho e pretendendo ser irmãos, enganam ao rico fazendeiro doente (Sam Shepard), simples e tímido, que se apaixona por Abby e casa com ela. Bill e Abby vêem isso como uma imperdível oportunidade para sair das suas vidas miseráveis, e o casamento se consuma em plena amoralidade, sem amor por parte de Abby, que continua tendo relações com Bill dentro da fazenda do esposo. As vítimas de Kit eram mais numerosas, mas o mal feito por Bill y Abby contra o fazendeiro é muito mais cínico e sofisticado; qualitativamente pior.
O fazendeiro descobre a verdade e é morto por Bill em episódio ambíguo, que faz o casal fugir. A espontaneidade do mal continua intacta, e novamente não há neste filme nem julgamentos nem perguntas ou remorsos ou visões externas ao que simplesmente acontece. Holly e Linda, as duas meninas narradoras desses filmes, e a própria Abby, são mulheres que passam por toda a violência rasa da vida e saem intactas, como batizadas, sem marcas notáveis nem grandes traumas, quase felizes, prontas para a vida, como se tivessem sido limpas num banho de sangue purificador; não fizeram nada errado, apenas existiram. Este era o ânimo filosófico de Malick na década de 70: despojado, contingente, perplexo, de entrega total aos fatos humanos em toda sua crueza original.
Trailer (inglês)
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